quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

QUE VENHAM DAÍ AS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS

O Governo de Carlos Gomes Júnior projecta no Orçamento Geral de Estado do próximo ano a realização de eleições Legislativas e Autárquicas.
Se as primeiras não constituem novidade nenhuma no fluir da vida democrática guineense, o mesmo não se poderá dizer das eleições locais, que se poderão afigurar como um verdadeiro arranque para o chamado Interior do País. Até aqui o partido (ou partidos coligados) no poder tem enviado para as cidades e vilas do país os seus boys, 99,9% dos quais impreparados para administrar a coisa pública. Também para que precisariam de competência, de saber fazer, de saber ser, se não têm de prestar contas nem a si, nem ao poder central de Bissau, quanto mais ao pobre povo.
O resultado desse crime está à vista de todos: o "Interior" não passa de um fantasma, de um cadáver em pé. Veja-se a "praça" de Bafatá (dantes o coração nobre e reluzente da cidade); a "praça" de Farim (cujo jardim, agora altamente degradado, à beira rio plantado, faz lembrar um pouco Coimbra e o seu jardim, pelo contrário, bem tratado, junto ao rio Mondego); a "praça" de Mansoa, quase desabitada e a cair de podre; de Bolama nem vale a pena falar.De resto,diga-se de passagem, só a cidade de Gabu escapa à essa desolação geral, graças ao forte dinamismo da sua gente e dos imigrantes conacry guineenses.
Bem vistas as coisas, não supreende por aí além que o Interior esteja no estado calamitoso em que se encontra, se a própria cidade capital Bissau é um verdadeiro caos: com as suas estradas, na sua maioria, em muito mau estado; armazéns que nascem da noite para o dia como cogumelos e complicam, e de que maneira, o trânsito; a grande porcaria a céu aberto que é o mercado de Bandim;vendedores ambulantes que parecem possuir o dom da ubiquidade e têm entrada livre em tudo quanto é sítio (certa vez, na pediatria do Hospital Nacional Simão Mendes, vi um médio mandar prender dois jovens que andavam por aí a vender panos e vestuário. Depois de um nunca mais acabar de "dicha, dicha" de duas colegas, lá acabou por perduá-los); toca-tocas, transporte colectivo que era suposto transportar pessoas, levam, literalmente, tudo e todos, muitos deles com ajudantes sujos, mal-vestidos e mal-cheirosos, isto, ante a indiferença de passageiros e autoridades.
Há que mudar de vida, passando do mais que gasto caos ao cosmos.E todo esse cenário degradante pode mudar para melhor com as eleições autárquicas. E mais, ao partido que perdesse as legislativas subsistiria uma réstia de esperança de chegar ao poder através das autárquicas, contribuindo assim para o minorar da tensão que o país tem experimentado por causa do "curo", do "tacho", como se diz na tuga.
De facto, uma das grandes causas do subdesenvolvimento da Guiné-Bissau tem que ver com a excessiva centralidade do poder em Bissau. E os boys do partido que são despachados para o Interior (contemplados com o cargo ou porque deram tudo o que tinham e não tinham durante as Legislativas ou porque "têm costa largo", isto é, familiares ou amigos dos todo-poderosos do partido)têm pouco ou nenhum poder e passam a vida a fazer "nenhum", como ficou dito.
Como é de ciência certa, havendo eleições autárquicas, os governadores (no caso,autarcas) ganham poder real e vêem-se forçados a trabalhar sob pena de não renovarem o mandato. E cereja sobre o bolo, as populações passam a ter uma palavra a dizer quanto ao destino.Assim, que venham as eleições Autárquias. E que Deus, Alá, abençoe a Guiné-Bissau!

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