sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A ESTRADA BUBA-CATIÓ AINDA ESTÁ PARA CONHECER MELHORES DIAS

Os anos passam. As dificuldades de trânsito na estrada Buba/Catió é que não. Sobretudo, nesta época do ano. É um nunca mais acabar do conjugar do verbo atolar. A população, cansada do atraso e do descaso dos sucessivos governos, promete não votar nas próximas eleições gerais, agendadas para 24 de Novembro do ano em curso. Já nem  a aliada comunicação social escapa à sua fúria. Na tabanca de Ntunhanhe, onde se encontra o maior atoleiro, que fica a 25 quilómetros de Buba, não foi fácil filmar. Não queriam nada com repórteres, que no seu entender, todos os anos filmam, fazem entrevistas para tudo ficar como estava ou pior. A revolta era total. Um camião estava preso no lodo (cumpria o quinto dia).
Segundo um residente,  há vinte ou trinta anos que esta estrada não beneficia de uma intervenção de fundo.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

40 ANOS DE DEPENDÊNCIA E BARBÁRIE

Volvidos 40 anos sobre a nossa Independência, conquistada a muito custo, que temos?  Escuridão por todo o lado. Se na capital Bissau a luz eléctrica é uma miragem, no interior do país nem vale a pena dizer. O mesmo se diga da água canalizada. Em Bissau a falta do precioso líquido nas torneiras ainda é mais grave porque há poucos poços para socorrer os munícipes ( a Cooperação Portuguesa tem valido, e muito, aos residentes dos bairros de Ajuda, Belém, Missira e Cuntum). Os preços dos produtos no mercado não páram de subir, em contraste com o poder de compra, em queda livre. O ensino está uma porcaria. Enquanto os professores efectivos recebem o seu magro soldo, os professores contratados, novos ingressos e doentes salivam meses a fio pela sua parte do bolo. Anos lectivos que abrem, sem mínimas condições de funcionalidade, e fecham, com pouca matéria dada e mal, para a deseducação dos estudantes. Hospitais e centros de saúde, pouco ou nada equipados, mal funcionam, com o pessoal altamente desmotivado. Edifícios estatais a desmoronar de podres por todo o território, enquanto florescem palacetes privados. Estradas de terra batida imperam, sobretudo no sul, prendendo no lodaçal carros e mais carros, por vezes, durante dias (o que acontece, por exemplo, na curta estrada que liga Buba a Catió). Os mais velhos são uns verdadeiros "quem tudo quer", mandando passear os jovens, ainda que com formação superior e tudo. Há uma trintena de partidos políticos que fazem tudo menos política. Os desempenhos antipatrióticos do PAIGC e do PRS fazem sonhar acordado com um terceiro partido, que os relegue para o segundo plano. E quem se revê nas nossas Forças Armadas?! É preocupante e perturbador que o comandante Pedro Pires, herói nacional, as considere um "intrumento de tirania e delinquência".

Os 40 anos de (In)dependência, levam-me a concluir, infelizmente, que, sem os caboverdianos e os seus descendentes (estou a pensar em Aristides Pereira, Pedro Pires, Amílcar Lopes Cabral...) a liderar não haveria PAIGC para ninguém, quanto mais independência, excelentemente conquistada. Por isso e por tudo (laços sanguíneos, história...) toda a iniciativa que nos aproxime dos nossos irmãos é muito bem-vinda. Daí estarem de parabéns os promotores da  Amizade Guiné-Bissau-Cabo-Verde de Lisboa.

Os "tugas" da terra, os donos e senhores do "sistema" apropriaram-se da nossa independência. Reconquistá-la cabe a todo o guineense que ame o país como ninguém.

Os 40 anos de NADA (descontando os 6 anos de Luís Cabral) não chegam para nos fazer desistir do sonho de Cabral e companhia.

P.s.: os funcionários públicos vão, provavelmente, passar o 24 de Setembro sem dinheiro. Pois, o Governo de Transição ainda não pagou os salários.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

O PARADOXO DO MULHERENGO

O mulherendo nem sempre está convicto no êxito da caça.
Na sua tentativa e erro, quando aborda uma moçoila de quem esperava uma tampa e é  brindado com um sorriso, uma fala doce, disponibilidade a toda a prova, perde-se, confuso. Vê-se e deseja-se para ganhar fôlego. Perde ar. Mete os pés pelas mãos pela enésima vez. Não dá acordo de si.
E esmorece, enquanto a presa, disponível até ao tutano, se afasta sorridente, com pena do pobre coitado que não está aí para dar a estoucada final. 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

WATNA ALMEIDA E O “CONGRESSO DE CASSACÁ DA UAC”


Só o chamava Watna Na Lai, à laia de brincadeira. Sempre bem-disposto. Sempre sorridente. O mais alto da Universidade Amílcar Cabral (UAC) e um dos mais novos, se não mesmo o mais novo dos professores varões.

Com a saída do primeiro Reitor para Ministro da Educação, inaugurava-se a instabilidade governativa na única universidade pública guineense. Começaram a cair reitores atrás de reitores até à sua famigerada suspensão em 2008 para alegria e proveito do Grupo Lusófona.

A reunião que acabaria por ser apelidada pelo ministro da Educação como o “Congresso de Cassacá da UAC” aconteceu como se segue:

O Reitor de então andava a perseguir, pela surdina, através de seus agentes (professores), muitos docentes (eu, inclusive). Cansados do ambiente pesado da casa, decidimos pedir uma audiência ao ministro. Fomos recebidos num sábado, tendo deixado uma carta cheia de queixas ao ministro. A reunião geral, informou-nos o ministro, teria lugar poucos dias depois.

Viemos a saber que mal terminara o encontro, alguém foi dar com a língua nos dentes para cair nas boas graças do Reitor, que assim preparou uma contra-ofensiva para nos esmagar logo que se abrissem as hostilidades no dia D.

Chegado o dia, e estando a faltar poucos minutos para o início da reunião geral, eu, Watna e mais dois ou três colegas resolvemos acrescentar mais um ponto à carta (cujo exemplar, já estava nas mãos do ministro, como ficou dito).

Coube a Watna Almeida lê-la, assim que o ministro nos passou a palavra. Quando chegou ao último ponto, que pedia a demissão do Reitor, o ministro, apanhado de surpresa, agitou-se na cadeira e protestou, uma vez que não constava da carta que tinha à sua frente. De resto, houve um sobressalto geral. Ninguém contava com a surpresa fora os supracitados conspiradores de última hora.

Lida a carta, Watna, que estava sentado perto de mim de propósito, desatou a beliscar-me para pedir a palavra, e só descansou mesmo quando ma deram. E eu, com os nervos à flor da pele, lá pedi a demissão do Reitor, a única ideia que me ocorreu.

O pior estava para vir. Os testemunhos que se seguiram deixaram toda a gente boquiaberta:

«O Magnífico Reitor disse que me vai cortar as asas», começou por dizer um certo docente. «Só gostava de saber se sou uma andorinha ou jagudi. Já agora, com que material cortante pensa cortá-las? Com uma tesoura,  terçado ou machado?!»

O contra-ataque, forte no começo, morreu subitamente ante às revelações das vítimas.

O Ministro ficou rendido e não teve outro remédio senão demitir o Reitor.

E é este acontecimento, “o Iº Congresso de Cassacá da UAC”, o mito fundador da Associação dos Docentes da Universidade Amílcar Cabral (ADUAC) para cuja presidência vi-me catapultado (através de eleições), a sugestão de Watna, o seu grande impulsionador e um dos seus activistas mais acérrimos.

Lembrei-me dessa histórica reunião da nossa saudosa UAC, que estava algures, nos confins da minha memória, a propósito da morte prematura do colega, irmão e amigo Watna Almeida, uma grande perda para o país.

Que Deus o tenha no seu paraíso!

P.S.: O MINISTÉRIO DAS FINANÇAS, COLEGAS, AMIGOS, FAMILIARES E O GOVERNO ESTÃO DE PARABÉNS PELA DIGNIDADE QUE CONFERIRAM À CERIMÓNIA FÚNEBRE. UM FUNERAL, DE RESTO, BASTANTE CONCORRIDO.