quinta-feira, 8 de agosto de 2013

FESTA DO RAMADÃO, A POLÉMICA DO DIA


Assim que acordei às 6h e qualquer coisa, sintonizei a RDP-África  (para ouvir as notícias das 7h, estar a par do desporto e dos títulos dos jornais) e liguei ao meu sobrinho em Mansoa para saber da raça (festa). Não sabia dizer-me quando seria. Às 8h, mudo de frequência para acompanhar as novas da RDN. E é aí que ouço dizer que a festa é mesmo hoje, porque, segundo um dos conselhos islâmicos, alguém tinha visto a lua lá para os lados de Tombali.

Um novo telefonema para o meu sobrinho para informar-lhe do que acabava de apurar. Que descansasse. Que a reza em Mansoa só mesmo amanhã. Que a notícia da RDN só traduzia a divisão no seio da família muçulmana guineense, na qual fulas, mandingas, Biafadas…cada uma dessas tribos reclama para si a liderança da comunidade.

Veio-me logo à ideia, a polémica que resultou da nomeação do moderado, competente e jovem imame de Mansoa para o posto, até aí, inexistente, de presidente dos imames da Guiné-Bissau. O Presidente de Transição Manuel Serifo Nhamadjo até se dera ao trabalho de intervir para reconciliar as partes. Pelos vistos, não serviu de muito. Só assim se explica a trapalhada em redor da celebração do fim do Ramadão.

Adiada a viagem a Mansoa, rumo ao mercado de Bandim para comprar víveres para a festa. Durante o trajecto, o debate que se instalou no tocatoca (transporte público) só podia girar à volta da raça.

Na feira, as pessoas não falavam de outra coisa. De regresso à casa, aí por volta das 10h, cruzo com muçulmanos que voltavam da reza. Uma senhora pergunta: «Eles viram a lua?!» E outra: «hoje é feriado ou não?!»

Apanho tocatoca. O mesmo debate. Outro tocatoca para o meu local de trabalho. O fim do Ramadão estava em análise. Conversa puxa conversa, e…, da boca do condutor sai, como que por artes mágicas, a frase do dia: hoje é “RA” e amanhã “ÇA”. Juntando as duas sílabas temos RAÇA ou na versão do impotente Governo de Transição: hoje é “TOLERÂNCIA DE PONTO” e amanhã “FERIADO”.

O Presidente de Transição rezou hoje. Resta saber, se amanhã repete a dose, já que, ao que parece, a maioria das mesquitas só se despede do mês sagrado amanhã.

Um Estado, que se preze, não pode funcionar assim. Isto é, não pode decretar tolerância de ponto no próprio dia e feriado para o dia seguinte. Não pode ser.

O Estado, com a ajuda dos próprios muçulmanos, tem de pôr fim à esta prática “hesitante” de todos os anos (para usar a expressão do Presidente Manuel Serifo Nhamadjo).

Hesitação que atrapalha, rouba tempo e faz perder dinheiro a muçulmanos, a não muçulmanos e ao próprio Estado. Não pode ser! Já não faz sentido insistir nesse método arcaico de procurar a lua. Não há necessidade. A lua já está nas nossas mãos, graças ao intelecto humano. “Se bu perto Lua bu ka ta quema, Lua oh Lua oh… se bu perto lua bu kata quema, Lua oh e de nos”. E a lua está à mão de semear. Já não é preciso procurá-la.

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