Assim que
acordei às 6h e qualquer coisa, sintonizei a RDP-África (para ouvir as notícias das 7h, estar a par do
desporto e dos títulos dos jornais) e liguei ao meu sobrinho em Mansoa para
saber da raça (festa). Não sabia
dizer-me quando seria. Às 8h, mudo de frequência para acompanhar as novas da
RDN. E é aí que ouço dizer que a festa é mesmo hoje, porque, segundo um dos conselhos
islâmicos, alguém tinha visto a lua lá para os lados de Tombali.
Um novo
telefonema para o meu sobrinho para informar-lhe do que acabava de apurar. Que
descansasse. Que a reza em Mansoa só mesmo amanhã. Que a notícia da RDN só
traduzia a divisão no seio da família muçulmana guineense, na qual fulas,
mandingas, Biafadas…cada uma dessas tribos reclama para si a liderança da
comunidade.
Veio-me logo
à ideia, a polémica que resultou da nomeação do moderado, competente e jovem imame de Mansoa para o posto, até aí,
inexistente, de presidente dos imames
da Guiné-Bissau. O Presidente de Transição Manuel Serifo Nhamadjo até se dera
ao trabalho de intervir para reconciliar as partes. Pelos vistos, não serviu de
muito. Só assim se explica a trapalhada em redor da celebração do fim do
Ramadão.
Adiada a
viagem a Mansoa, rumo ao mercado de Bandim para comprar víveres para a festa.
Durante o trajecto, o debate que se instalou no tocatoca (transporte público) só podia girar à volta da raça.
Na feira, as
pessoas não falavam de outra coisa. De regresso à casa, aí por volta das 10h,
cruzo com muçulmanos que voltavam da reza. Uma senhora pergunta: «Eles viram a
lua?!» E outra: «hoje é feriado ou não?!»
Apanho tocatoca. O mesmo debate. Outro tocatoca para o meu local de trabalho. O
fim do Ramadão estava em análise. Conversa puxa conversa, e…, da boca do
condutor sai, como que por artes mágicas, a frase do dia: hoje é “RA” e amanhã
“ÇA”. Juntando as duas sílabas temos RAÇA
ou na versão do impotente Governo de Transição: hoje é “TOLERÂNCIA DE PONTO” e
amanhã “FERIADO”.
O Presidente
de Transição rezou hoje. Resta saber, se amanhã repete a dose, já que, ao que
parece, a maioria das mesquitas só se despede do mês sagrado amanhã.
Um Estado,
que se preze, não pode funcionar assim. Isto é, não pode decretar tolerância de
ponto no próprio dia e feriado para o dia seguinte. Não pode ser.
O Estado,
com a ajuda dos próprios muçulmanos, tem de pôr fim à esta prática “hesitante”
de todos os anos (para usar a expressão do Presidente Manuel Serifo Nhamadjo).
Hesitação
que atrapalha, rouba tempo e faz perder dinheiro a muçulmanos, a não muçulmanos
e ao próprio Estado. Não pode ser! Já não faz sentido insistir nesse método
arcaico de procurar a lua. Não há necessidade. A lua já está nas nossas mãos,
graças ao intelecto humano. “Se bu perto
Lua bu ka ta quema, Lua oh Lua oh… se bu perto lua bu kata quema, Lua oh e de nos”. E a lua está à mão de semear. Já não é preciso procurá-la.
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