Só o chamava Watna Na Lai, à laia de brincadeira. Sempre bem-disposto.
Sempre sorridente. O mais alto da Universidade Amílcar Cabral (UAC) e um dos
mais novos, se não mesmo o mais novo dos professores varões.
Com a saída do primeiro Reitor para Ministro da Educação,
inaugurava-se a instabilidade governativa na única universidade pública
guineense. Começaram a cair reitores atrás de reitores até à sua famigerada
suspensão em 2008 para alegria e proveito do Grupo Lusófona.
A reunião que acabaria por ser apelidada pelo ministro da
Educação como o “Congresso de Cassacá da UAC” aconteceu como se segue:
O Reitor de então andava a perseguir, pela surdina, através
de seus agentes (professores), muitos docentes (eu, inclusive). Cansados do
ambiente pesado da casa, decidimos pedir uma audiência ao ministro. Fomos
recebidos num sábado, tendo deixado uma carta cheia de queixas ao ministro. A
reunião geral, informou-nos o ministro, teria lugar poucos dias depois.
Viemos a saber que mal terminara o encontro, alguém foi dar com
a língua nos dentes para cair nas boas graças do Reitor, que assim preparou uma
contra-ofensiva para nos esmagar logo que se abrissem as hostilidades no dia D.
Chegado o dia, e estando a faltar poucos minutos para o
início da reunião geral, eu, Watna e mais dois ou três colegas resolvemos
acrescentar mais um ponto à carta (cujo exemplar, já estava nas mãos do
ministro, como ficou dito).
Coube a Watna Almeida lê-la, assim que o ministro nos passou
a palavra. Quando chegou ao último ponto, que pedia a demissão do Reitor, o
ministro, apanhado de surpresa, agitou-se na cadeira e protestou, uma vez que
não constava da carta que tinha à sua frente. De resto, houve um sobressalto
geral. Ninguém contava com a surpresa fora os supracitados conspiradores de
última hora.
Lida a carta, Watna, que estava sentado perto de mim de
propósito, desatou a beliscar-me para pedir a palavra, e só descansou mesmo
quando ma deram. E eu, com os nervos à flor da pele, lá pedi a demissão do
Reitor, a única ideia que me ocorreu.
O pior estava para vir. Os testemunhos que se seguiram
deixaram toda a gente boquiaberta:
«O Magnífico Reitor disse que me vai cortar as asas», começou
por dizer um certo docente. «Só gostava de saber se sou uma andorinha ou
jagudi. Já agora, com que material cortante pensa cortá-las? Com uma tesoura, terçado ou machado?!»
O contra-ataque, forte no começo, morreu subitamente ante às
revelações das vítimas.
O Ministro ficou rendido e não teve outro remédio senão
demitir o Reitor.
E é este acontecimento, “o Iº Congresso de Cassacá da UAC”, o
mito fundador da Associação dos Docentes da Universidade Amílcar Cabral (ADUAC)
para cuja presidência vi-me catapultado (através de eleições), a sugestão de
Watna, o seu grande impulsionador e um dos seus activistas mais acérrimos.
Lembrei-me dessa histórica reunião da nossa saudosa UAC, que
estava algures, nos confins da minha memória, a propósito da morte prematura do
colega, irmão e amigo Watna Almeida, uma grande perda para o país.
Que Deus o tenha no seu paraíso!
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