segunda-feira, 2 de setembro de 2013

WATNA ALMEIDA E O “CONGRESSO DE CASSACÁ DA UAC”


Só o chamava Watna Na Lai, à laia de brincadeira. Sempre bem-disposto. Sempre sorridente. O mais alto da Universidade Amílcar Cabral (UAC) e um dos mais novos, se não mesmo o mais novo dos professores varões.

Com a saída do primeiro Reitor para Ministro da Educação, inaugurava-se a instabilidade governativa na única universidade pública guineense. Começaram a cair reitores atrás de reitores até à sua famigerada suspensão em 2008 para alegria e proveito do Grupo Lusófona.

A reunião que acabaria por ser apelidada pelo ministro da Educação como o “Congresso de Cassacá da UAC” aconteceu como se segue:

O Reitor de então andava a perseguir, pela surdina, através de seus agentes (professores), muitos docentes (eu, inclusive). Cansados do ambiente pesado da casa, decidimos pedir uma audiência ao ministro. Fomos recebidos num sábado, tendo deixado uma carta cheia de queixas ao ministro. A reunião geral, informou-nos o ministro, teria lugar poucos dias depois.

Viemos a saber que mal terminara o encontro, alguém foi dar com a língua nos dentes para cair nas boas graças do Reitor, que assim preparou uma contra-ofensiva para nos esmagar logo que se abrissem as hostilidades no dia D.

Chegado o dia, e estando a faltar poucos minutos para o início da reunião geral, eu, Watna e mais dois ou três colegas resolvemos acrescentar mais um ponto à carta (cujo exemplar, já estava nas mãos do ministro, como ficou dito).

Coube a Watna Almeida lê-la, assim que o ministro nos passou a palavra. Quando chegou ao último ponto, que pedia a demissão do Reitor, o ministro, apanhado de surpresa, agitou-se na cadeira e protestou, uma vez que não constava da carta que tinha à sua frente. De resto, houve um sobressalto geral. Ninguém contava com a surpresa fora os supracitados conspiradores de última hora.

Lida a carta, Watna, que estava sentado perto de mim de propósito, desatou a beliscar-me para pedir a palavra, e só descansou mesmo quando ma deram. E eu, com os nervos à flor da pele, lá pedi a demissão do Reitor, a única ideia que me ocorreu.

O pior estava para vir. Os testemunhos que se seguiram deixaram toda a gente boquiaberta:

«O Magnífico Reitor disse que me vai cortar as asas», começou por dizer um certo docente. «Só gostava de saber se sou uma andorinha ou jagudi. Já agora, com que material cortante pensa cortá-las? Com uma tesoura,  terçado ou machado?!»

O contra-ataque, forte no começo, morreu subitamente ante às revelações das vítimas.

O Ministro ficou rendido e não teve outro remédio senão demitir o Reitor.

E é este acontecimento, “o Iº Congresso de Cassacá da UAC”, o mito fundador da Associação dos Docentes da Universidade Amílcar Cabral (ADUAC) para cuja presidência vi-me catapultado (através de eleições), a sugestão de Watna, o seu grande impulsionador e um dos seus activistas mais acérrimos.

Lembrei-me dessa histórica reunião da nossa saudosa UAC, que estava algures, nos confins da minha memória, a propósito da morte prematura do colega, irmão e amigo Watna Almeida, uma grande perda para o país.

Que Deus o tenha no seu paraíso!

P.S.: O MINISTÉRIO DAS FINANÇAS, COLEGAS, AMIGOS, FAMILIARES E O GOVERNO ESTÃO DE PARABÉNS PELA DIGNIDADE QUE CONFERIRAM À CERIMÓNIA FÚNEBRE. UM FUNERAL, DE RESTO, BASTANTE CONCORRIDO.




 

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