segunda-feira, 24 de junho de 2013

VIZINHOS CÁ DENTRO

Num belo dia, ainda melhor, belíssima noite de luar, sem o "cucurucu" das aves de mau agoiro, os guineenses foram para a cama com a sua vida simples e pobre de sempre, mais ou menos limpa, mais ou menos arrumada. Casinhas espaçadas quanto bastasse, estendidas ao longo das estradas e avenidas. Uma igreja aqui, outra acolá; uma mesquita aqui, outra ali, na paz e silêncio de Deus e Alá. Os mendigos contavam-se pelos dedos de uma só mão. Os petizes aprendizes de alcorão estavam remetidos ao seu "kau de lei".
De resto,  durante toda a noite e madrugada afora não se sonhara nada de especial que prenunciasse fosse o que fosse. Ao romper do dia, os guineenses acordaram atónitos para o pesadelo em pleno dia. "Quê quê isso? - Não era para menos. A  sua vida pacata de sempre estava de pernas para o ar.
Armazéns disfarçadas de prédios, quase sempre por acabar, tomavam conta de todo o espaço, faltando ar e dificultando a circulação automóvel e pedonal. Boutiques por todo o lado. Passeios atulhados de vendedores e compradores. Vendedores ambulantes dotados de ubiquidade que não poupavam sequer os doentes acamados. Verdadeiras mulas humanas transportando cargas pesadíssimas, disputando cada pedaço do alcatrão com os veículos, e pondo em perigo a própria vida e a dos outros. Igrejas e mesquitas para todos os gostos e feitios, para dar e vender com o volume dos altifalantes sempre a subir, e a  todas as horas de culto, para desassossego dos vizinhos, alguns até com a sorte de levar com duas ou mais ao mesmo tempo. Mulheres mascaradas com a cor da noite africana, escuro breu, para fazer a vontade dos maridos ciumentos varridos. Uma dessas "cancurans" pretos até apareceu no pequeno ecrã da TGB a falar com desenvoltura da greve que havia na saúde, com o seu disfarce de todos os dias e tudo. Não estava identificada. Pudera! Não era preciso. Assim, podia passar por Aicha, Maimuna...
Pior, os guineenses descobriram, finalmente, que eram tudo menos guineenses; que a capital, o aeroporto,as embaixadas, bem como os hospitais e escolas ficavam doutro lado da fronteira. Que os militares - estranhamente bem nutridos e bem fardados, armados até aos dentes - falavam línguas estranhas. Corriam até rumores que asseguravam que o Presidente e os ministros eram estrangeiros ou que tinham sido eleitos por estrangeiros.
"Mas que confusão?!" - Não dava para acreditar.
Toda a calma do mundo era precisa para se poder digerir tamanho caos. "Como se chegou a isto?"- perguntavam-se, incrédulos. "A quem assacar as culpas?!" E os guineenses lá concluíram pelas suas cabecinhas longe de tontas, depois de muito reflectir, exercício a que não estavam de todo  habituados:
A parte de leão da culpa só podia ser dos políticos e dos militares. Os vizinhos mais não faziam do que cavalgar a onda, tirando proveito, o mais possível, da nossa "organização desorganizada".

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