domingo, 18 de setembro de 2011

A SURPREENDENTE EUROPA

" A civilização ocidental tem um avanço considerável no plano material. Se ela se revelasse tão fecunda em técnicas de desenvolvimento interior como na sua tecnologia, estaria na vanguarda do mundo moderno. Mas quando o homem negligencia o cultivo da sua dimensão interior, transforma-se numa engrenagem da máquina, torna-se escravo das coisas; e assim, de humano, fica apenas com o nome", Dalai Lama, in SAMSARA, A Vida, A Morte, O Renascimento, p 59, Edições ASA.


A Europa, por extensão o Ocidente, logrou chegar a um estádio de desenvolvimento que encanta até o mais duro e atrasado dos Homens da Caverna. O progresso do homem/mulher branco é tal que algumas almas brancas e até mesmo negras continuam a acreditar piamente na suposta superioridade da raça branca, isto apesar dos desmentidos categóricos da própria ciência moderna.

De facto, a Europa surpreende. Lembro-me de um "homem grande" muçulmano em Bula, que conheci nos finais da década de oitenta do século passado, que não escondia de ninguém o fascínio que nutria pela Transportadora Aérea Portuguesa (TAP) e pela sua pontualidade na época colonial. Até nós (eu e alguns professores do antigo Ciclo, 5ª e 6ª classes) sempre que passeávamos pela única estrada alcatroada de Bula, imaginávamos a percorrer uma luxuosa avenida europeia. E não raras vezes, chamávamos uns aos outros, a brincar, obviamente, "ó preto", "ó branco", no sentido pejorativo no primeiro caso e positivo no segundo. Assim, não surpreende que muitos africanos - e não só - não consigam resistir a avassaladora tentação de abandonar a terra natal em demanda de um futuro melhor na Europa avançada.

Como não há bela sem senão, a Europa não consegue ser perfeita. Daí experimentar deveras dificuldades em conciliar, como recomenda Naisbitt, o "High Tech" (alta tecnologia, desenvolvimento tecnológico) com o "High Touch" (ou seja, companhia, calor humano, tempo para a família; elevação espiritual e moral, acrescento eu).

Este artigo nasce da visualização diária do meu canal televisivo internacional favorito, a Aljazeera. No seu programa SURPRISINGEUROPE, apresentado por um black, surpreende-nos com as surpresas europeias que aguardam os imigrantes africanos menos avisados. Surpresas essas contadas pelas próprias "vítimas", uns verdadeiros reporteres ocasionais:
pessoas presas em centros de detenção na Holanda, por falta de papéis, e que se dizem objectos de maus tratos e aconselham os "manos" a nunca se atreverem a desembarcar um pé na Holanda;
relatos extasiados sobre a famosa TOMATINA, a "Guerra dos Tomates", que junta anualmente milhares de foliões em Bunol, Espanha; isto para não falar da corrida de touros de Pamplona ( a celebérrima Festa de São Firmino, de todo incompreensível para um africano.), na qual touros desvairados machucam e até matam pessoas em êxtase;
holandeses que se fazem à água gélida, logo nas primeiras horas da matina, para se purificarem e entrarem com o pé direito no Novo Ano; o racismo saloio de alguns brancos...
A reportagem que mais me impressionou tinha que ver, digamos, com a "Terapia do Riso". Um black, o reporter, extasiado com o que via, estaciona a sua bicicleta num extenso espaço verde e começa por admirar, mudo de surpresa, mulheres estendidas ao comprido e...mortinhas de riso. De resto, gargalhadas havia-as para dar e vender. Segundo uma senhora que ouviu, por sinal, participante na terapia, os europeus levam a vida demasiado a peito, trabalham muito e o riso não é para aí chamado. Daí necessitarem duma cura dessas. O nosso herói lá foi convidado a experimentar a coisa. Não esteve com cerimónias. Deitou-se sobre uma toalha e...desatou a "kakarejar", "ka, ka, ka...". Minutos depois, pós-se de pé, e..."ka, ka, ka...". Valeu. Tinha ganho o dia e, já agora, saúde. E você, meu caro leitor, entre na onda e ria a bom rir. Não precisa de motivo: ka, ka, ka...Surpreenda-se, libertando o riso que há em si todos os santos dias! Seja o primeiro e o último a rir. Que faz bem, faz. Aproveite e seja feliz! Ka, ka, ka...

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